domingo, 8 de julho de 2012

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS




Estes dias mesmo era um menino e hoje passei para a turma dos maduros e que pensa como Mario de Andrade neste texto.
O texto abaixo foi apresentado por um amigo e vale a pena ser avaliado.


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui
para frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas...
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar
da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo
de secretário geral do coral.
‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa…
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua
mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!

sábado, 9 de junho de 2012

John Mayer - Born and Raised

Em novo disco, John Mayer mostra maturidade e espírito de superação

O músico John Mayer acaba de lançar o disco “Born And Raised”, o quinto trabalho de estúdio de sua discografia. Com este álbum, o artista dá uma guinada sonora rumo ao folk, com pitadas de soft rock, que deixam nítida a mistura de influências musicais de nomes como America, Crosby, Stills and Nash, Bread e Neil Young.

É necessário frisar, antes de tudo e acima de qualquer coisa, que “Born And Raised” foi concebido na fase da vida em que Mayer decidiu encarar e vencer os desastres pessoais pelos quais passou nos últimos tempos. Turnês desgastantes, relacionamentos com términos conturbados e um intenso tratamento de saúde são alguns dos ingredientes presentes no cotidiano recente do cantor. Logo, ao ouvir o CD de maneira mais atenta, percebe-se que através de músicas com letras ligadas entre si, o disco possui o conceito de superação. Isto é, através destas 12 faixas, John Mayer exorciza seus demônios interiores e traduz em forma de música a sua capacidade de ressurgir das próprias cinzas.

(fonte:Foi publicada, no site CifraClubNews, uma crítica do Born and Raised, escrita pelo Gustavo Morais. O novo álbum do John Mayer recebeu a nota 8.5)

O CD é simplesmente um deleite total. Eu adorei e recomendo.

sábado, 24 de julho de 2010

Suas escolhas definem Você


Um grupo de contentes trabalhadores estavam em um jatinho particular voltando para casa, depois de uma semana intensa.
Conforme o jatinho aproximava-se da pista, eles celebravam o sucesso daquela semana. Foi entao que, de repente, tudo mudou. O avião foi atingido por um vento forte e desceu violentamente; as rodas bateram na pista sem equilibrio. Toda a conversa parou e todos ficaram espantados ao perceber que estavam em perigo. O piloto, sem hesitar, acelerou de novo e arremeteu. Numa fraçao de segundos, trocaram o clima de festa por uma reflexão sobria. Todos entendemos que tudo poderia ter acabado ali! Sentamos quietos enquanto o avião voltou a circular o espaço aéreo, e alguns minutos depois, aterrisaram em segurança.
Todos aplaudimos e só então começamos a relaxar e respirar aliviados. Quando desembarcamos agradecemos ao comandante por nos manter salvos. Comentei:
- Foi uma decisao difícil. Você reagiu muito rápido diante da crise. A partir de que momento tomou a decisão de arremeter?
A Resposta impressionou:
- A Quinze anos atrás.

Isso nos mostra que pessoas de sucesso tomam as decisões certas por antecipação e as adiministra diariamente.

É claro que a cada dia as experiências nos ensinam muito. mas temos que estar sempre atentos.

A escola da vida oferece muitos cursos difíceis. Alguns destes cursos frequentamos de boa vontade. Outros nos pegam de surpresa. Em todos os casos, podemos aprender lições muito valiosas. Você pode se tornar um exemplo daquilo que Rudyard Kipling expressou no poema Se:


Se te for possivel manter o senso diante
De um mundo que o perdeu e contra ti se levanta;
Se podes crer em ti entre os que duvidam,
e cujas próprias dúvidas abrigasm,
Se podes esperar sem desistir
Ou recusar a mentira sem transigir,
Ou suportar o ódio sem retibuir;
Se te faltarem aparência e sabedoria para prosseguir

Se podes sonhar, mas o sonho não te domina
Se podes pensar, mas do pensamento não fazes tua sina
Se te encontras com o triunfo e a tribulação
E os trata como impostores que são;

Se suportas ouvir tua verdade
Depturpada por patifes em sua vaidade
ou ver destruída a obra da tua dedicação
E encontras forças para levantá-la de novo do chão

Se és capaz de juntar o fruto de tua conquista
e arriscar-te a perdê-lo de uma só vez
em perdendo, recomeçar do inicio da pista
sem lembrar-te pelo que se desfez;
Se podes tirar do coraçao , do nervo e de cada tendão
a força para te servirem quando toda energia se vai
e continuar em frente quando nada te resta senao
a vontade que a eles diz: Nao cessai

Se podes manter tua virtude entre a gente comum,
ou andar entre reis sem perder esse encanto;
se ninguem, amigo ou inimigo, pode te fazer mal algum
se todos contam contigo, mas nem tanto
se podes preencher teu munito crucial
Com sessenta segundos de puro brilho
Tua é a terra e tudo que nela há, e afinal
Terás te tornado um homem, meu filho!!

Beijos
Eric Gomes

segunda-feira, 22 de março de 2010

Mil bolinhas de gude - Uma fábula sobre o tempo


Para acabar com o assunto de administração do tempo gostaria de deixar aqui um parábola escrita por Jeffrey Davis bem legal. Veja:

"Quanto mais velho fico, mais gosto das manhãs de sábado. Talvez seja por causa da quietude e da sensação de solitude por ser o primeiro a levantar, ou - quem sabe? a alegria desmedida de não ter de ir trabalhar. De um jeito ou de outro, as primeiras horas de uma manha de sábado são mais alegres.
Há algumas semanas, eu estava me arrastando em direção do porão [...] com uma xícara de café bem quentinho em uma das mãos e o jornal na outra. O que começou com uma típica manha de sábado se transformou numa daquelas lições que a vida parece ensinar de tempos em tempos. Permita-me contar como aconteceu.
Sou radioamador, e sintonizei na faixa de comunicação por telefone para ouvir uma comunicação em rede que costumava ocorrer nas manhas de sábado. No caminho, passei por um velho companheiro radioamador, que transmitia num sinal bem forte e com voz perfeita. Você sabe como é, aqueles sujeitos que poderiam ser locutores de televisão. Ele estava conversando com alguém e comentando algo sobe "mil bolinhas de gude". Fiquei curioso e parei para ouvir o que ele dizia.
- Bem, Tom, parece mesmo que você está muito ocupado com seu trabalho. Tenho certeza de que eles pagam muito bem, mas é um absurdo você precisar se afastar tanto de sua casa e de sua familia. É dificil acreditar que uma pessoa tão jovem tenha que trabalhar sessenta ou setenta horas por semana para poder se sustentar. Foi muito ruím você ter perdido a apresentação de dança de sua filha. Vou contar uma coisa a você, Tom, algo que tem me ajudado a manter uma boa perspectiva em relação a minhas propriedades.
Foi quando ele começou a explicar a teoria das mil bolinhas de gude.
- Veja bem, um dia me sentei e fiz um breve cálculo. Uma pessoa vice, em média 75 anos. Sei que alguns vivem mais e outros vivem menos, mas em media vivem 75 anos. Aí multipliquei 75 por 52 semanas e cheguei a 3900 que é o numero de sábados que uma pessoa vive durante toda a vida. Agora, continue acompanhando meu raciocínio, Tom; estou chegando perto da parte importante. Levei 55 anos de minha vida para começar a pensar sobre tudo isso em detalhes, e naquela época eu já havia vivido 2800 sábados. Calculei que, se eu vivesse até os 75 anos, só teria pouco mais de 1000 sábados restantes para aproveitar. Então fui a uma loja de brinquedos e comprei mil bolinhas de gude. Levei-as para casa e coloquei dentro de uma caixa grande de plastico que fica aqui [...] perto do meu aquipamento. Desde então, todo sábado eu tiro uma bolinha de gude e jogo longe. Descobri que, conforme via o número de bolinas de gude diminuir, eu me concentrava mais nas coisas realmente importantes da vida. Não há nada como perceber o tempo de vida nesta terra indo embora para ajudar a pessoa a focar nas prioridades. Mas permita-me dizer mais uma coisa antes de finalizarmos nossa conversa e desligarmos o rádio para eu poder levar minha adorável esposa para tomar café: está manha tirei a última bolinha de gude da caixa. Fiquei pensando que, se eu continuar vivo até o proximo sábado, significa que ganhei tempo extra nesta vida e a unica coisa que todos podemos desfrutar é um pouquinho mais de tempo.
Foi um prazer falar com você, Tom, e espero que passe mais tempo com sua família. Tomara que voltemos a nos falar por rádio um dia desses.
O silencio era total no rádio quando aquele homem desligou. Acho que ele tinha nos fornecido material para um bocado de reflexão. Eu havia planejado trabalhar na antena do rádio naquela manha, e depois me encontraria com alguns amigos radioamadores para elaborar o próximo boletim do clube. Em vez disso, subi as escadas e acordei minha esposa com um beijo.
- Vamos lá, meu bem, vou levar você e as crianças para tomar café.
- Porque essa novidades?
- Ah nada especial. É que já faz muito tempo desde a ultima vez que passei um sábado inteiro com você e as crianças. Ei, daria para parar numa loja de brinquedos quando sairmos? Preciso comprar umas bolas de gude"

Valeu.

No próximo post, novo assunto

abraços

Eric

sábado, 6 de março de 2010

Não administre seu tempo - Administre sua vida




Bem no inicio da minha carreira, nos primeiros anos, percebi que minha capacidade de maximizar o tempo seria essencial para minha produtividade e para a eficiência de minha liderança. Como Peter Drucker dizia, "nada distingue melhor os executivos eficazes do que o cuidado e o carinho que dispensam ao tempo".
Por saber que eu precisava me aprimorar nesta área, participei de um seminário sobre administração do tempo. Aprendi muitas lições valiosas naquele dia. Uma delas mexeu comigo e guardei por mais de trinta anos, foi a analogia que o palestrante usou para descrever o tempo. Ele afirmou que nossos dias são como valises idênticas. Embora sejam de mesmo tamanho, algumas pessoas são capazes de guardar mais coisas dentro delas do que outras. Quer saber a razão? É porque ela sabem como organizar o conteúdo. Saí daquele seminário com dois conceitos marcantes. O primeiro: o tempo é um patrão que oferece oportunidades iguais para todos; todo mundo tem direito a 24 horas por dia, mas nem todos conseguem tirar o mesmo proveito delas. O segundo conceito: de fato não existe este negocio de administração do tempo. Trata-se de uma contradiçao. O tempo não pode ser administrado. Não há como controlá-lo de forma alguma.

Sendo assim, o que fazer? Administre-se!

As pessoas que se administram mal geralmente cometem os seguintes erros:

1) Desvalorizam sua singularidade fazendo aquilo que os outros desejam que ela façam.
2) Acabam com sua eficácia dedicando-se a coisas que não tem importância.
3)Reduzem o proprio potencial dedicando-se a tarefas as quais não foram treinadas.

Agora as pessoas que administram a vida fazem coisas que...

1) Potencializam seu propósito geral na vida - isso propicia o crescimento pessoal.
2) Enfatizam seus valores - isso proporciona realização pessoal.
3) Maximizam seus pontos fortes - isso as torna eficazes.
4) Aumentam sua alegria - isso as torna mais saudáveis
5) Capacitam e orientam outras pessoas - isso contribui para sua produtividade
6) Agregam valor a outras pessoas - Isso aumentam sua influência.

é isso ai

do livro "O livro de ouro da liderança - John C. Maxwell

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Não mande patos para uma escola de águias

Passei por um momento de descoberta não faz muito tempo e quando li este texto foi muito esclarecedor e por isso transcrevo aqui para vocês:

A primeira regra de administração é esta: não mande patos para uma escola de águias. Quer saber o motivo? Porque não vai dar certo. Pessoas competentes são descobertas, e não transformadas. Elas podem tomar a iniciativa de mudar, mas você não conseguira mudá-las. Se você deseja se cercar de gente competente é preciso descobrir primeiro. Se quiser gente motivada, precisa encontra-las e não motiva-las.
Não faz muito tempo, li em uma revista em NY um anuncio de pagina inteira de uma rede de hotéis. Na primeira linha da chamada estava escrito "não ensinamos nossos funcionários a serem simpáticos". Aquilo chamou a minha atenção. A segunda linha dizia " Contratamos gente simpática". Pensei: "Que sacada inteligente!".
A motivação é um mistério. Porque algumas pessoas estão sempre motivadas e outras não? Porque um vendedor detecta seu primeiro cliente em potencial as sete da manha enquanto os outros só começam a vender a partir das onze? Qual a razão de um começar as sete e outro as onze? Não sei. Chamamos isso "os mistérios da mente".
Ministro palestras para mil pessoas ao mesmo tempo. Uma sai dali e diz: "Vou mudar minha vida". A outra sai bocejando e dizendo: " Ja ouvi toda essa bobagem antes".Porque isso acontece?
Credite isso aos misterios da mente, e não perca seu tempo tentando transformar patos em águias. Contrate pessoas que já possuem a motivação e o impulso para se tornarem águias. Depois, permita que elas batam asas e voem.

Quer saber se você é águia ou pato? Águias possuem as seguintes caracteristicas:

Capacidade de adaptação - ajustam-se rapidamente as mudanças.
Discernimento - Compreendem quais são as questões mais importantes.
Perspectiva - Enxergam alem do ponto que estão.
Comunicação - Interagem com as pessoas de todos os níveis da organização.
Segurança - Confiam no que são, e não no cargo que ocupam
Disposição para servir - fazem o que for necessario
Iniciativa - Encontram maneiras criativas de fazer as coisas acontecerem
Maturidade - colocam a equipe em primeiro lugar
Persistencia - Mantem consistência em termos de caracter e competência a longo prazo
Confiabilidade - São dignos de confiança naquilo que é mais importante.

E isso ai.

Do livro - O livro de ouro da liderança - John C. Maxwell



quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ensine seus filhos a falhar

Entrevista "Ensinem os filhos a falhar"

Estudioso das relações familiares, o psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun diz que aprender a lidar com o insucesso é fundamental para livrar-se de apuros na vida adulta

Por Ronaldo Soares
Selmy Yassuda

Nos últimos trinta anos, o modelo tradicional de família passou por alterações significativas, principalmente no mundo ocidental. A ideia dos pais como senhores do destino dos filhos vem desabando progressivamente, no ritmo das transformações sociais. As consequências disso não são necessariamente ruins, como explica o psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, uma das principais referências na Europa no estudo sobre mudanças nas relações entre pais e filhos: "O que vale é a capacidade dos pais de fazer os filhos crescer. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha". Lebrun esteve no Rio de Janeiro, para participar do 3º Encontro Franco-Brasileiro de Psicanálise e Direito. A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu a VEJA.

Por que os pais hoje têm tanta dificuldade de controlar seus filhos?

Isso é reflexo da perda de legitimidade. Até pouco tempo atrás, a sociedade era hierarquizada, de forma que havia sempre um único lugar de destaque. Ele podia ser ocupado por Deus, ou pelo papa, ou pelo pai, ou pelo chefe. Isso foi se desfazendo progressivamente, e o processo se acentuou nos últimos trinta anos. Hoje a organização social não está mais constituída como pirâmide, mas como rede. E na rede não existe mais esse lugar diferente, que era reconhecido espontaneamente como tal e que conferia autoridade aos pais. As dificuldades para impor limites se acentuaram, causando grande apreensão nas pessoas quanto ao futuro de seus filhos.

Existe uma fórmula para evitar que os filhos sigam por um caminho errado?

É preciso ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente. Quando os pais, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos. É inescapável errar. Todo mundo, em algum momento, vai passar por isso. Aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo. Às vezes é preciso lembrar coisas muito simples que as pessoas parecem ter esquecido completamente. Estamos como que dopados. Os pais sabem que as crianças não ficarão com eles a vida inteira, que não vão conseguir tudo o que sonharam, que vão estabelecer ligações sociais e afetivas que, por vezes, lhes farão mal, mas tentam agir como se não soubessem disso. Hoje os filhos se tornaram um indicador do sucesso dos pais. Isso é perigoso, porque cada um tem a sua vida. Não é justo que, além de carregarem o peso das próprias dificuldades, os filhos também tenham de suportar a angústia de falhar em relação à expectativa depositada neles.

Falando concretamente, como é possível perceber essa diferença no comportamento das famílias hoje?

A mudança é visível. Na Europa, por exemplo, quando um professor dá nota baixa a um aluno, é certo que os pais vão aparecer na escola no dia seguinte para reclamar com ele. Há vinte, trinta anos, era o aluno que tinha de dar satisfações aos pais diante do professor. É uma completa inversão. Posso citar outro exemplo. Desde sempre, quando se levam os filhos pela primeira vez à escola, eles choram. Hoje em dia, normalmente são os pais que choram. A cena é comum. É como se esses pais tivessem continuado crianças. Isso acontece porque eles não são capazes de se apresentar como a geração acima da dos filhos. É uma consequência desse novo arranjo social, em que os papéis estão organizados de forma mais horizontal.

Como o senhor avalia essa mudança? Esse novo arranjo é pior do que o anterior?


Hoje os pais precisam discutir tudo, negociar o que antes eram ordens definitivas. E isso não é necessariamente algo negativo, desde que fique claro que, depois de negociar, discutir, trocar ideias, quem decide são os pais.

Essas mudanças na estrutura social podem influenciar em aspectos negativos como, por exemplo, o uso abusivo de drogas?

Não há uma relação automática. Os mecanismos pelos quais os indivíduos se tornam dependentes químicos são diversos e complexos. A psicanálise ajuda a identificar alguns deles. Vou dar um exemplo. Manter uma criança em satisfação permanente, com sua chupeta na boca o tempo todo, fazendo por ela tudo o que ela pede, a impede de ser confrontada com a perda da satisfação completa. E isso vai ser determinante em sua formação.

Mas o que essa perda tem a ver com o fato de as pessoas enveredarem por um caminho autodestrutivo?

É uma anomalia no processo de humanização. Não nascemos humanos, nós nos tornamos. Isso ocorre quando aprendemos aquilo em que somos singulares entre todos os animais que habitam o planeta. Somos os únicos capazes de falar. Não se trata apenas de aprender ortografia ou usar as palavras corretamente. Quando dominamos a faculdade da linguagem, adquirimos uma série de características muito especiais, como, por exemplo, a consciência de que somos mortais. Aprendemos a construir as pontes que levam a um entendimento superior do mundo e de nossa condição. Isso é o que nos diferencia e nos torna completamente humanos. Um desequilíbrio nesse processo pode ter consequências. É aí que entra a explicação psicanalítica para o ingresso no universo das drogas. Aprender a falar, ou tornar-se humano, é algo que não ocorre espontaneamente. É uma reação a uma perda do estado permanente de satisfação completa com a qual somos confrontados na primeira infância. Ou seja, o processo de humanização começa pelo entendimento de que jamais haverá a satisfação completa. É esse o curso saudável das coisas. Se os pais boicotam esse processo, podem estar cometendo um erro.

Com que consequências?


Isso faz com que estejamos cada vez menos preparados para lidar com o sofrimento da nossa condição humana. Há séculos que as drogas têm algo de paraíso artificial, como diz Baudelaire. Ou seja, uma forma de se refugiar da dor humana, da insatisfação. As drogas sempre serviram para evitar o confronto com esse sofrimento. Quanto menos você está preparado a suportar as dificuldades, mais está inclinado a se evadir, a recorrer a substâncias, sejam as drogas ilícitas, sejam as medicamentosas, para limitar o sofrimento que vai se apresentar. Com o desenvolvimento da farmacologia, essas substâncias se tornaram muito acessíveis. Isso pode criar distorções. É muito mais simples tomar uma Ritalina para não ser hiperativo do que fazer todo o trabalho de aprender a suportar a condição humana. Quando criança, a pessoa já precisa ser confrontada com a condição humana da perda de satisfação. Dessa maneira, na idade adulta, sua relação com o fim de uma paixão amorosa, por exemplo, tem maiores chances de ocorrer de maneira mais aceitável e menos traumática.

Por que as drogas têm apelo especial para os jovens?

Eles são mais sensíveis a esse fenômeno porque têm uma tendência espontânea a, quando se tornam adultos, ser novamente confrontados com as dificuldades da existência. É, de certa forma, a repetição daquilo que haviam vivenciado na infância, quando foram, ou deveriam ter sido, apresentados à ideia de perda da satisfação completa, de que não ficariam com a chupeta na boca a vida inteira, por exemplo. Se, no ambiente em que esses jovens vivem, há uma abundância de produtos que funcionam como um meio de evitar essas dificuldades, eles mergulham de cabeça. Como também veem nisso certo caráter transgressivo, todas as condições estão dadas para que eles recorram às drogas.

Que conselhos o senhor daria a pais que têm filhos viciados?

É preciso não achar que, pelo fato de os filhos usarem drogas, tudo está perdido. Isso não contribui em nada. Caso contrário, o jovem drogado, além de conviver com o próprio drama, terá de carregar a angústia dos pais sobre os ombros. Esse é o momento em que os pais devem aceitar que algo não funcionou direito em vez de tratar o problema como se tudo estivesse perdido. Nem sempre está.

Há alguma terapia que funcione contra a dependência química?

Cada caso requer um trabalho. Não existe terapia milagrosa. Há tentativas interessantes, de pessoas que se ocupam de refazer com o sujeito o trabalho de suportar as frustrações, as impossibilidades, os limites. Esse trabalho pode ajudar as pessoas a se livrar da dependência. Não existe até hoje uma droga que chegue a resolver o problema da droga. Momentaneamente, a pessoa pode até ficar contente se conseguir se tornar um pouco menos ansiosa, mas é preciso ver que efeito isso tem a longo prazo.

Existem dependentes irrecuperáveis?

A psiquiatria não é uma ciência universal, ela não diz o que vale para todos, ou mesmo para uma série de pacientes. É preciso trabalhar sempre caso a caso. Mas eu não diria nunca que um viciado em drogas é irrecuperável. Existem outros elementos em jogo que precisam ser considerados. Não há dependência química que não seja fruto de uma interação malsucedida entre o contexto social em que o indivíduo está inserido e o seu trajeto singular desde a infância.

Pouco mais de um mês atrás, no Rio de Janeiro, um rapaz viciado em crack matou uma amiga que tentava ajudá-lo. O pai do rapaz atribuiu a tragédia à dificuldade de internar o filho. O senhor é favorável à internação de dependentes químicos?

Essa é uma questão complicada mesmo. Na Europa, de modo geral, optamos cada vez menos pela internação de dependentes químicos. Quando a internação é necessária, esperamos que ela se dê de forma voluntária. Nos casos em que isso não é possível, a internação dura em média quarenta dias e é acompanhada de medidas administrativas para evitar abusos que já aconteceram, de internações excessivamente longas. Nesse aspecto, minha posição é como a dos europeus de maneira geral. Ficamos um pouco divididos entre manter nosso princípio democrático de que, mesmo doente, cada um tem o direito de dar sua opinião e, por outro lado, ter de reconhecer que em determinadas situações isso não é possível.

Costuma-se atribuir o mau comportamento dos filhos à falta da estrutura familiar tradicional, como a que ocorre após uma separação. Qual a exata influência que isso pode ter?

Uma família organizada de forma aparentemente harmônica não necessariamente faz de um jovem uma pessoa capaz de conviver e suportar o sofrimento inerente à condição humana. Essa capacidade pode ser pequena em famílias aparentemente realizadas, com estrutura sólida. Assim como pode ser enorme em uma família conflituosa, dividida, conturbada. Por isso, não se deve levar em conta apenas o aspecto exterior da família. O que vale é a capacidade dos pais de fazer os filhos crescer. De incutir-lhes a verdadeira condição humana. Esse é o bom ambiente familiar, independentemente do desenho que a família tenha.

O melhor mesmo, então, é aceitar que a existência é sofrida?

O processo é mesmo muito mais complexo do que ocorre com outros animais. Um cão nasce cão e será assim para o resto da vida. Um tigre será sempre tigre. Um humano, no entanto, precisa se tornar plenamente humano. É uma enorme diferença. Esse processo leva uns vinte, 25 anos e está sujeito a percalços. Na Renascença já se falava disso: não somos humanos, nós nos tornamos humanos.

Fonte : Revista Veja